Flavio Cruz

A moça feia, a garota de Ipanema e outras mulheres


Foi o Ataulpho que nos contou que a Amélia, sim, era mulher de verdade. Que ela às vezes passava fome a seu lado, e achava bonito não ter o que comer. Já o Chico disse que nunca é tarde, nunca é demais. E que a Bárbara e sua amante deviam ceder enfim à tentação de suas bocas cruas, mergulhando assim no poço escuro delas duas. E mais, o Chico avisou também para a Carolina que não vai dar, que seu pranto não vai nada mudar. Pois é, continua ele, uma rosa morreu, uma festa acabou, e o barco partiu. O João Gilberto já tinha dito que amar é tolice, é bobagem, ilusão, e que ele prefere viver tão sozinho ao som do lamento de seu violão. E pergunta: “Agora amor, Doralice meu bem, como é que nós vamos fazer? Não ouvi a Doralice responder pois estava preocupado com as pedras que jogavam na Geni. Ainda assim, foram lhe pedir que dormisse com o forasteiro do Zepelim: Vai com ele, vai, Geni! E a Iracema, então? “Travessou contra mão”. É para piorar as coisas, o Adoniram agora só guarda somente suas meias e seus sapatos, ele perdeu o retrato dela. Mas não foi só a Iracema que se foi. O Gil nos contou que o José viu Juliana na roda com João. Daí, o espinho da rosa feriu Zé e foi só sangue no chão. Olha a faca, olha o sangue na mão! Não era melhor o João não ter ido no parque? O Jobim falou que a Lígia não passou de uma ilusão do mesmo modo que o Chico ficou a ver navios quando a Madalena foi para o mar. Já o Ivan Lins, com um frio na barriga, repetia: Dinorah, Dinorah!
E existem tantas outras. A Teresinha – Chico de novo, quantas mulheres – acabou ficando com o terceiro, só porque foi chegando sorrateiro e se instalando feito um posseiro dentro de seu coração, antes mesmo que ela dissesse não. E para terminar o alfabeto, o Ultraje a Rigor avisou a Zoraide para parar com essa coisa chata, e não vai se casar só porque já foi legal.
Às vezes, porém, as mulheres ficam sem nome. Nem por isso as pessoas deixam de saber que Helô Pinheiro é a garota de Ipanema. Mesmo porque, quando ela passa, o mundo sorrindo se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor. Já a moça feia que se debruçou na janela, pensando que a banda tocava pra ela, ninguém sabe o nome dela. Não sei por quê, o Chico não falou...

All rights belong to its author. It was published on e-Stories.org by demand of Flavio Cruz.
Published on e-Stories.org on 22.06.2015.

 
 

Comments of our readers (0)


Your opinion:

Our authors and e-Stories.org would like to hear your opinion! But you should comment the Poem/Story and not insult our authors personally!

Please choose

Articolo precedente Articolo successivo

Altro da questa categoria "Altro" (Short Stories in portoghese)

Other works from Flavio Cruz

Vi è piaciuto questo articolo? Allora date un'occhiata ai seguenti:

Um casamento como nenhum outro - Flavio Cruz (Amore e Romanticismo)
Pushing It - William Vaudrain (Altro)
A Long, Dry Season - William Vaudrain (Vita)