Flavio Cruz

O dia em que Steve perdeu as estribeiras


Steve era um empregado exemplar. Sempre lá do outro lado do balcão do hotel, tentando resolver os problemas dos hóspedes, tentando ajudá-los. Como se costuma dizer, para ele não havia tempo ruim. Fazia verdadeiros malabarismos para contornar situações difíceis, encontrar um ponto comum entre os interesses do hotel e as necessidades ou desejos de quem precisasse. Era educadíssimo. Diante de pessoas arrogantes, sem educação, ele sempre conservava sua calma e mantinha o respeito, mesmo quando não era respeitado.
Aquele fulano de Nova Iorque estava sendo um teste rigoroso para ele. Embora o erro na reserva tivesse sido do próprio, pois solicitou uma cama de casal, quando na verdade eram duas camas o que queria, ele insistia que aquilo era incompetência do hotel. O Steve já tinha provado para ele, de uma maneira inequívoca, que não havia como o computador ter errado. Estava agora tentando resolver a situação da melhor forma possível. O impaciente senhor, entretanto, não dava folga, não parava de falar. Hotel incompetente! Cinco estrelas? Nem duas merecia, e assim por diante. O Steve mexia e mexia no computador, tentando acomodar o inconveniente hóspede. Fazia de conta que aquele xingamento todo não era com ele, era apenas um desabafo. Num determinado momento, porém, o homem começou a falar muito alto e chamou o Steve de incompetente.
Não sei o que deu no nobre servidor. Ele levantou a cabeça, olhou bem para os olhos do reclamante e soltou, bem sonoro:
-Fuck you!
Deixo o palavrão no original, pois, nesse caso, soa melhor. Todo mundo do saguão olhou para o Steve e para aquela insolente figura, que, de repente tinha ficado muda. Saiu dali, foi para a sala onde os funcionários deixam suas coisas, pegou a mochila, e foi para casa de uniforme mesmo. No dia seguinte foi informado que tinha sido transferido para um cargo inferior, sem contato com o público e, para salvar seu emprego, teria de fazer um tratamento psicológico. Justo ele que nunca tinha se irritado.
Todos estavam solidários com ele, pois tinham visto o que tinha acontecido e sabiam como ele era. O Steve, no entanto, estava muito bem. Repetia para todos:
-Eu me sinto leve, leve...
E se você visse a cara dele, você concordaria. Ele estava tranquilo, suave, quase pairando no ar....

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Published on e-Stories.org on 14.08.2015.

 
 

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