Flavio Cruz

A loira e a retina

O Aníbal ouviu a campainha e correu até a porta. Lá estava uma loira ajeitada de uns 40 anos, com uma maleta na mão. Tentou se lembrar de algum compromisso, de alguma hora marcada, mas nada! Também ela não deu tempo, foi muito rápida. Foi entrando e disse que precisava de um quarto escuro. Aníbal agora se lembrava vagamente de ter um compromisso médico. Talvez o seguro agora estivesse proporcionando aconselhamento sexual para pessoas que estavam se aproximando da velhice. Talvez alguma aula prática. Nunca se sabe, hoje tudo anda tão moderno. Ele levou-a até o quarto, mas ela disse que não servia, era muito claro, precisava de escuridão. Ela apontou o banheiro e mandou que ele entrasse. Ele achou um pouco inconveniente, porém, ela insistiu. Mandou que ele se sentasse, rápido. Acho que estava com pressa. Uma pena, pois aquele era um momento tão solene, tão especial.

Antes que o próximo pensamento chegasse ao excitado cérebro do Aníbal, a loira apontou uma arma com laser bem no olho direito e puxou o gatilho. O clarão do flash deixou-o quase cego. Numa sequência devastadora, fez o mesmo com o olho esquerdo. Praticamente sem visão nenhuma, finalmente conseguiu se lembrar. Tinha exame de retina naquela manhã. O médico tinha avisado que iriam tirar uma foto da dita cuja para ver se o diabetes ainda não tinha causado cegueira ou outros danos.

Sua retina está razoável, disse a técnica - tinha de ser loira - e foi guardando seu equipamento. Naquele momento, Aníbal desejou que tivesse pedido um exame de memória, para ver se o tal de Alzheimer não tinha atacado seus neurônios. Que vexame! Pensou, em contrapartida, se não poderia processar – nos EUA processa-se por tanta coisa – o seguro por causar falsa expectativa: sabe a loira, o quarto escuro etc. Imediatamente percebeu que a ideia era idiota, ao mesmo tempo em que a loira fatal desaparecia pela porta, dizendo que o oftalmologista entraria em contato para maiores detalhes.

Ah, ela continuou, durante o dia você vai ficar vendo umas manchas por causa do flash, mas não é nada, não. O Aníbal teve manchas, sim. Algumas na visão, outras no seu ego...

All rights belong to its author. It was published on e-Stories.org by demand of Flavio Cruz.
Published on e-Stories.org on 05.05.2017.

 
 

Comments of our readers (0)


Your opinion:

Our authors and e-Stories.org would like to hear your opinion! But you should comment the Poem/Story and not insult our authors personally!

Please choose

Articolo precedente Articolo successivo

Altro da questa categoria "Humour" (Short Stories in portoghese)

Other works from Flavio Cruz

Vi è piaciuto questo articolo? Allora date un'occhiata ai seguenti:

O computador que escreve crônicas: o Writer2017 - Flavio Cruz (Quotidiano)
Heaven and Hell - Rainer Tiemann (Humour)
Amour fourbe - Linda Lucia Ngatchou (Altro)